Falhando com os pobres nas cidades

Para marcar o Dia Mundial da Água de 2021, a Drª Deljana Iossifova, Professora Associada em Estudos Urbanos da Universidade de Manchester, Reino Unido, e a Professora Sênior Norma Valencio, da Universidade Federal de São Carlos, Brasil, discutem as limitações potencialmente fatais de acesso à água potável e como Manchester está trabalhando para enfrentar isso.

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No Brazil, como em todo o mundo, a água é um desafio transversal. O desenvolvimento da infraestrutura de água e saneamento não acompanhou o ritmo acelerado da taxa de urbanização (45% em 1960 versus 85% em 2010). 

Os assentamos informais no Brasil – comunidades como favelas e cortiços – contam com uma precária infraestrutura de água e saneamento. Embora mais de 80% da população do país esteja conectada à rede de abastecimento de água urbana, até 10% ainda captam a sua água de nascentes, poços ou armazenamento das chuvas. Uma prática comum nas periferias das cidades é a perfuração de poços próximos de fossas sépticas, o que leva a riscos de contaminação e transmissão de doenças de veiculação hídrica.

Living with water risks in Nova Friburgo, Brazil. Photo: Norma Valencio, 2020
Vivendo com riscos relacionados à água em Nova Friburgo/RJ, Brasil. Foto: Norma Valencio, 2020

Como a nossa pesquisa está contribuindo 

Financiada pela Royal Society, nosso projeto Em Direção do Saneamento Sustentável na Índia e no Brasil estuda as intersecções e interdependências da infraestrutura de água com outras infraestruturas, bem como os recursos sociais, econômicos e ambientais e como eles são administrados. Por exemplo, nós observamos as interações da estrutura de saneamento com a água, energia ou transporte com o intuito de entender como perturbações em uma pode levar a (por vezes inesperadas) mudanças em outra. 

Nós também exploramos interdependências com sistemas políticos, sociais, técnicos e ecológicos. Por exemplo, nós traçamos as mudanças de relações de poder nos processos de negociação, elaboração e implementação das políticas relacionadas às infraestruturas. Nossa pesquisa é por essência transdisciplinar, envolvendo parceiros do governo e indústria através de workshops e consultas colaborativas. 

Nosso projeto objetiva identificar como os sistemas de água e saneamento podem ser escolhidos, planejados, desenhados, implementados, mantidos e utilizados de forma a minimizar os impactos negativos da atividade humana e melhorar a saúde e bem-estar da população no curto e longo prazo.

Emergências de saúde pública e infraestrutura urbana

O quão bem as cidades fragmentadas e os assentamentos urbanos densamente povoados respondem às emergências de saúde depende do quão bem administrada é a provisão de água e saneamento, entre outras infraestruturas e serviços.

Nosso projeto objetiva identificar como os sistemas de água e saneamento podem ser escolhidos, planejados, desenhados, implementados, mantidos e utilizados de forma a minimizar os impactos negativos da atividade humana e melhorar a saúde e bem-estar da população no curto e longo prazo.

Dr Deljana Iossifova / Senior Lecturer in Urban Studies, The University of Manchester

Políticas públicas voltadas para o problema da provisão fragmentada entre diferentes setores da população não levaram a grandes melhorias até o momento. 

Um novo Enquadramento Jurídico para o Saneamento Básico foi sancionado pela Presidente da República em 2020 com a meta de assegurar o acesso universal à água e tratamento de águas residuais e esgoto na taxa de 90% até o ano de 2033. 

Nossa pesquisa é projetada para auxiliar processos decisórios relevantes, de forma que este objetivo possa ser atingido em formas que são socialmente justas e ambientalmente sustentáveis.